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23 março 2008

Relações interdisciplinares

Este sou eu, Márcio, um pobre rapaz que ama perdidamente uma garota que nem repara em mim. Sou daqueles garotos estudiosos, que todos teimam em denominar CDF. Realmente sou um, mas não tenho como evitar, está no meu sangue.


Quando estou com ela, tudo fica diferente. Ela falou comigo por duas vezes (e eu lembro-me muito bem delas). Na primeira, ela me pediu gentilmente a resposta do exercício 78 de matemática. Já na segunda, ela me ajudou a reunir o material que eu havia derrubado da minha carteira.


A beleza dessa garota deixa meu sistema nervoso bastante afetado, reagindo ao mínimo contato e deixando-me apreensivo. Eu sei muito bem que nunca possuí tal sentimento por ninguém em toda a minha vida. Quando ouço sua voz, a memória me leva às mais belas cantigas de amor, cantadas pelos trovadores.


É pura física! Os opostos se atraem, ou pelo menos tentam, desde que haja uma força de atração suficientemente forte para romper a inércia dos corpos.


É também pura química! Tudo não passa de compostos e ligações, de ácidos e bases, todos agindo ao mesmo tempo e causando um turbilhão de emoções que me deixam ansioso, nervoso, alucinado, alienado. É uma questão simples que pode ser resolvida com uma também simples regra de três, onde o meu empenho será diretamente proporcional à minha vitória (assim eu espero).


Espere um pouco que aí vem ela... passou direto, mas sei que ela conseguiu me detectar, sentado nesse canto, com a sua visão periférica. Ela passa e me deixa fora do meu juízo normal. Não raciocino direito, não elaboro problemas, nem consigo lembrar se a esquistossomose é causada por um platelminto ou se é causada por um nematelminto.


Como diria Gandhi: “Acreditar em lago e não o viver é desonesto”. Resolvi tomar uma atitude drástica. Vou falar com ela. Já está decidido. Vou falar tudo o que penso e que sinto em relação a ela.


É impossível fazer isso! Meus sistemas não estão preparados para funcionar sobre tamanha pressão. Os meus sistemas digestivo e respiratório ficam totalmente fora de controle e é melhor nem comentar sobre os meus sistemas nervoso e reprodutor.


Mas vou até lá e vou falar. Não posso ser assim tão incompetente a ponto de não conseguir fazer isso. Eu juro que irei tentar, por todo esse amor reprimido no interior da minha pobre massa encefálica e que luta incessantemente para libertar-se das correntes que o mantém como meu escravo.


E agora me encontro em um caminho totalmente bifurcado. De um lado está o meu caminho seguro, o qual eu conheço muito bem, pois se trata da minha história passada. O outro lado é o lado obscuro, representando o caminho do medo do desconhecido e do recuo diante de uma adversidade. Não sei se possuo ousadia suficiente para enfrentar este último.


Tento resolver o problema utilizando derivadas, logaritmos, limites e até mesmo por lógica. Nenhuma das alternativas me deu uma resposta concreta sobre como se deve proceder diante de tal situação.


Levanto-me! Caminho de cabeça baixa! Caio! Levanto e observo o que aconteceu. Esbarrei sem querer em minha amada e a fiz cair. Nunca pensei que a machucaria, mas esse dia chegou antes que eu pudesse prever.


Creio não ter acontecido nada e prontifico-me a ajudá-la. Nós dois saímos conversando e o assunto acabou fluindo como eu já ensaiara muitas vezes dentro da minha própria mente, já pensando em todas as possibilidades de recusa e arquitetando argumentos coerentes para rebatê-los.


Quando eu menos esperava, já estava falando sobre os meus sentimentos, expondo tudo aquilo que eu decidira guardar para sempre nas gavetas mais profundas da minha memória.
Percebi que a força de atração entre os corpos era grande, mas existia uma outra força, que era oposta ao movimento, impedindo que ela viesse parar em meus braços abertos. Ela foi muito gentil comigo e mal pude acreditar quando ela disse que pensaria no caso.


É melhor ter uma chance do que perder todas de uma só vez. Não agüentei e fui até ela para saber qual seria a resposta para o meu intrincado problema. Pela graça de Descartes que a resultante de tudo, representada no plano cartesiano, foi uma reta completamente positiva.


Ao primeiro toque, a adrenalina passava acelerada pelo meu corpo. Os olhos se fecharam e faltam-me palavras para descrever o que aconteceu depois. Faltam equações e fórmulas, perguntas e respostas. Nem Sigmund Freud é capaz de explicar o que se passou comigo naquele momento. Isso é algo que nem a ciência, com toda a sua magnitude, é capaz de explicar. Passou uma semana e eu nunca mais me encontrei com o meu ex-amor. Ela mudou-se para outro colégio. O meu referencial desapareceu e eu fiquei temporariamente desnorteado. Mas a vida continua, apesar dos infortúnios, e é melhor sempre guardar boas recordações, pois a qualquer momento um referencial pode ser tirado do seu mundo, mas você deve permanecer sempre estável, devido as suas experiências e boas recordações daqueles que se foram.