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13 julho 2009

Conto de Fadas Frango

A primeira coisa que ouvi falar quando cheguei naquele galinheiro distante foi a respeito da princesa. “Você precisa conhecê-la”, “Ela é a coisa mais bonita que já vi”, “Se eu fosse um belo frango como você me casaria com ela”. Esses foram só alguns dos comentários que eu escutei assim que cruzei a porteira de entrada daquele lugar...

“Que povo mais desesperado para desencalhar a princesa”, pensei comigo mesmo. Ela deve ser um fubango violento para eles ficarem empurrando a pobre coitada para qualquer um que apareça. Como eu estava só de passagem por ali, resolvi ignorar e seguir minha viagem. Mas era impossível.

A toda hora os aldeões me paravam, insistindo para que eu fosse conhecer a princesa. Depois de muita encheção de saco, e de quatro socos recebidos, eu resolvi dar uma passada no castelo pra conferir se ela era tudo aquilo que eles estavam falando ou se eu realmente estava certo.

Fui entrando no castelo como se eu já fosse de casa e encontrei com um serviçal, que me levou direto ao quarto da princesa. Uma porta de vidro que ficava eternamente trancada me separava da princesa. E meu bico ficou aberto meia hora quando eu vi o quão perfeita era aquela galinha. Penas brilhantes, peito fantástico, rabo empinadinho. Eu a desejei na hora...

Não precisou muito tempo para eu convencer o rei galo a me dar a mão (e todo o resto) da princesa em casamento. O único problema é que ela não podia sair de sua redoma de vidro antes de oficializarmos nossos votos. Então foi realizado uma cerimônia um pouco diferente. Eu de um lado do vidro e ela do outro. Quando nós dois dissemos sim, o vidro desapareceu na mesma hora e eu, enfim, pude tocar minha princesa.

Nossa primeira noite foi ótima. Quando terminamos ela falou que estava presa naquele quarto cercada por vidros por culpa da maldição de uma bruxa. Quando ele havia acabado de ser chocada, essa bruxa tinha vindo ao castelo e falado para o rei que ela tinha duas possibilidades de vida. Ou ser linda para sempre e ficar presa no vidro até a chegada de um belo frango ou simplesmente crescer e ver no que dava.

Dá pra imaginar qual opção o rei escolheu, né? Pois é, então depois dela estar completamente aliviada por ter me contado sua história, ela adormeceu. Não demorou muito para eu fazer o mesmo. Acordei primeiro que ela na manhã seguinte, já pensando em fazer um belo café da manhã para minha mais nova dama. O que eu não imaginava era a extensão da maldição daquela bruxa. Quando eu olhei para o lado, minha bela princesa havia se transformado numa galinha gorda e cheia de celulites. Completamente horrenda!


Quando percebi, eu já tinha caído do poleiro e acordado do pesadelo. Galinha gorda maldita, até os meus sonhos essa infeliz tem que invadir?

04 julho 2009

Festa no galinheiro

Só para deixar bem claro, estou aqui contra a minha vontade. Hoje é sábado. Não é dia de ninguém decente estar no computador, ainda mais escrevendo textos bonitinhos e felizes. Quem esse granjeiro pensa que é para me obrigar a fazer essas coisas?

Ontem foi o aniversário dele. Teve festa aqui no galinheiro e tudo. E ele não teve a hombridade de me convidar. E olha que eu nem sei o que é hombridade, só usei essa palavra porque ela é bonita. Enquanto o som rolava solto lá na casa dele, eu estava
aqui, desolado, sozinho no meu poleiro.

O pior de tudo é que ele deixou a gente com fome. Nem um grão de ração ele trouxe para a gente. Aliás, a farra foi tão boa que ele ainda não acordou. Ou seja, tem quase 36 horas que eu estou fazendo um jejum forçado. E só Deus sabe o quanto eu fico mal humorado quando eu estou com fome.

Pensando bem, porque a gente deveria comemorar o aniversário daquele patife? Primeiro: ele nem dá atenção direito para o galinheiro. Tem vezes que ele fica 15 dias sem aparecer por aqui. Isso lá é consideração? Segundo: sempre dá uma desculpa esfarrapada que está muito ocupado e não pode vir aqui. Eu tenho apenas uma palavra para ele: fodas!

Ele até tem qualidades, mas os defeitos dele são insuportáveis. Não sei como ele ainda tem amigos que vêm aqui no dia do aniversário dele. Sério... ele consegue ser muito insuportável às vezes. Quando o humor dele está particularmente ácido, ele vem e desconta tudo em mim.

Na minha terra esse mal humor tem outro nome. Falta de mulher. Eu, no alto da minha experiência como frango garanhão reprodutor da granja já sentei para dar algumas dicas para ele e tchururu, mas quem disse que ele me ouviu? Ele é mais frango que eu. Disso eu não tenho nenhuma dúvida...

Mas deixa para lá. Apesar de todos os problemas o granjeiro é um cara legal. E nem tô mentindo. Mereceu ter feito uma mega comemoração ontem. Mas se ele não trouxer minha comida logo, nem quero estar na pele dele...

01 julho 2009

Reflexões de um frango com enxaqueca

Tem três dias que eu estou aqui no poleiro com uma dor de cabeça infernal. Se eu olho para o lado, dói. Se eu pisco, dói. Se eu penso, dói. Já passou há muito tempo da fase de dor de cabeça e virou uma enxaqueca das mais violentas.

Aliás, tem coisa pior que dor de cabeça? Eu já me entupi de remédios para ver se resolve, mas até agora nada. Três dias e NADA. Tô me sentindo até drogado depois de tanta coisa que eu tomei. Sabe aquela história de não se automedicar? Pois é, Não façam isso... além de não resolver nada, fiquei completamente passado.

Eu dormi por quase 15 horas seguidas. Ninguém tem ideia de como isso destrói o corpo. Parece que minhas asas foram colocadas dentro de um liquidificador. Tô sentindo dor até nas penas, para vocês terem uma ideia.

Por falar em pena, elas resolveram começar a cair. Não sei se é por causa do meu repouso forçado ou por causa do inverno. E isso só me deixa mais nervoso. E quanto mais nervoso, mais minha cabeça dói. É involuntário. Eu olho para o espelho e vejo minhas penas ficando cada vez mais ralas.

Isso machuca o ego. Tudo bem que eu sou o frango garanhão reprodutor dessa granja, mas não dá pra negar que minha atuação está deixando a desejar. Imagina sair do poleiro no estado em que eu estou? Penas falhadas, cabeça explodindo e um mau humor dos infernos. Assim eu não vou conseguir uma galinha jamais.

Sei lá, nessa situação que eu estou não consigo nem pensar em galinhas. Pensar me dá dor de cabeça. Se eu começar a pensar, minha imaginação começa a funcionar... e imaginar coisas também dói. E dói muito...

Agora que a gripe suína saiu de moda, eu acho que contraí um tipo novo de doença. Incomum, incurável, injustificada e insuportável. E tomara que ela seja contagiosa. Muito contagiosa. Afinal, sofrer sozinho não tem graça nenhuma.

Pensando bem, vou voltar para o poleiro e descansar. Tomara que eu não vá fazer
companhia pro Michael Jackson no meio do caminho...
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O granjeiro mandou avisar que ele não tava postando por falta de tempo. Sabe como é fim de semestre na faculdade, né? Nem comida pra gente ele tava dando direito, imagina escrever alguma coisa. Ele pede desculpas e diz que isso não vai acontecer mais. Aliás, sexta é aniversário dele, texto especial chegando!